quinta-feira, dezembro 09, 2010

Nas ondas do radioamadorismo

Comunicadores, que trocam diferentes tipos de informação e até ajudam em tragédias, totalizam 30,8 mil no Brasil.

Parece brincadeira de criança, mas falar e ser ouvido por uma pequena estação de rádio doméstica é o hobby de milhares de radioamadores espalhados pelo mundo. No Brasil, 30.792 têm autorização da Agência Nacional de Tele­­comunicações (Anatel) para operar estações de radioamadorismo. Um contingente de 2.469 pessoas está no Paraná.

“Aqui eu falo com o mundo”, diz Carlito Klein. Ele tem 74 anos de idade e 60 de radioamadorismo. É considerado referência pelos próprios radioamadores de Ponta Grossa, onde há perto de 60 representantes do radioamadorismo. Carlito é filiado às ligas brasileiras e até à americana. Já conversou com autoridades, como o ex-presidente argentino Carlos

Menem e o presidente Hussein, da Jordânia. Tudo isso sem saber. “Eles não me contaram quem eram porque no radioamadorismo não existe presidente nem autoridade, existem só radioamadores”, diz. Carlito comprova os contatos através dos cartões trocados entre os radioamadores.

O inglês é a língua oficial nas transmissões. “Eu falo em alemão porque sou descendente, inclusive, quando eu falo com alguém da Alemanha, eles me perguntam há quanto tempo eu estou de férias no Brasil. O inglês eu fui pegando aos poucos”, comenta Carlito. O colega de radioamadorismo, Valmir Luiz de Mattos, também exercita seu inglês. “Morei seis anos no Canadá e para mim é mais fácil”, acrescenta.

As conversas são norteadas geralmente pelas notícias do cotidiano de seus países de origem e pelas novidades técnicas do hobby. Há cerca de seis anos, alguns radioamadores caíram nos encantos da internet e usam o eco-link para se comunicarem. Trata-se de um programa específico que permite a comunicação por sinais de rádio, mas via rede mundial. Os radioamadores clássicos, como Carlito, não aderiram à novidade. “Não posso usar porque sou filiado à liga americana e ela não permite”, explica. Valmir utiliza o programa. “A propagação é melhor”, sustenta.

Porém a boa e velha telegrafia, que deu início ao radioamadorismo através da comunicação por sons, ainda é ponto de partida para qualquer radioamador. O conhecimento da técnica é exigido para o radioamador classe B (intermediário) entrar na classe A (a principal). Para a classe C, basta uma prova com conhecimentos básicos do funcionamento do rádio e de eletrônica. Todo o segmento é regrado pela Anatel, que aplica provas para a emissão da certificação e cobra taxas anuais de funcionamento das estações.

“A telegrafia é o bicho-papão de muito radioamador”, confirma Carlito, que aprendeu a técnica ainda na década de 50 por também ter sido piloto de monomotor. Para Valmir, a telegrafia deveria ser uma exigência também para os iniciantes, para qualificar o setor.

Tragédias

Os radioamadores usam frequências próprias de comunicação, mas, por terem conhecimento técnico, podem intervir nas on­­das da polícia. Segundo Valmir, isso não acontece. “Não podemos entrar na frequência da polícia, isso não é permitido. Quando é necessário, podemos ajudar nas tragédias”, afirma.

Na enchente do rio Jagua­ri­­catu, em Sengés, em janeiro deste ano, quando cinco pessoas morreram, radioamadores montaram uma estação improvisada no município para possibilitar a comunicação das equipes de socorro. A cidade tinha ficada ilhada e as estações de telefone, alagadas.

Início

Para ingressar no radioamadorismo é preciso obter a licença da Anatel, emitida após uma prova teórica. O próximo passo é comprar os equipamentos. Uma estação básica para um radioamador classe C pode custar menos de R$ 200. Uma estação sofisticada, usual nos Estados Unidos e na Europa, custa até R$ 25 mil.

Além de seguir as determinações da Anatel, é preciso ter uma conduta compatível à função do radioamadorismo, ou seja, não comentar temas polêmicos, como futebol e política durante as transmissões.

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